A mulher que eu me tornei!

Esse post escrevi em homenagem ao dia das mulheres para nós mamães, mas não postei no dia 08, pois muitas pessoas já haviam postado textos lindos e reflexões maravilhosas, resolvi postar em outro dia onde poucas mensagens seriam escritas, onde pouco seriamos lembradas. Hoje é apenas uma quarta-feira, o dia perfeito para refletir sobre a nossa importância, sobre nossa vida de mãe e sobre quem somos, um dia qualquer, pois dia da mulher é todo dia, mesmo sendo uma frase clichê, é exatamente assim que eu sinto, que somos importantes e essenciais todos os dias!

A mulher que eu me tornei…

Durante os últimos dias andei refletindo muito sobre a mulher que eu me tornei, a mulher que eu sou além da mãe, a mulher além da esposa, a mulher que eu olho no espelho através do cabelo bagunçado, de algumas olheiras e de um sorriso sincero cheio de felicidade.

Andei refletindo sobre todos os caminhos que percorri, que vivi, como tudo isso colaborou para hoje me tornar quem eu sou. Refleti sobre como as coisas aconteceram e cheguei a uma conclusão: que toda mulher passa por duas fases em sua vida, “a mulher pré-gravidez” e a “mulher pós-parto” (hehehe…).

Assim que engravidamos nos sentimos incríveis, poderosas, iluminadas, abençoadas, agradecidas por conseguir engravidar e gerar uma vida. Recebemos muita atenção e carinho das pessoas ao nosso redor, nos mercados, nas lojas, em qualquer lugar público as pessoas param para conversar, conhecendo ou não, pois afinal somos grávidas e não uma “simples mortal”. Temos filas preferenciais, vagas de estacionamento, desejos atendidos, não carregamos peso, as pessoas nos protegem, temos direitos a descansar, a nos alimentar várias vezes por dia, (aliás, as pessoas adoram nos ver comendo hehehe), somos lindas e maravilhosas estando acima do peso hehehe…  Enfim, somos tratadas como seres divinos, especiais (e nos sentimos assim) e recebemos muito “tudo” das pessoas, coisa que antes da gravidez não estávamos acostumadas, então passamos 9 meses em um sonho encantado.

Depois que nos tornamos mães praticamente toda atenção é direcionada ao bebê, pois ele realmente necessita de cuidados especiais. Passamos a não dormir, a manter uma alimentação regrada, comendo apenas o que não causa cólicas no bebê, amamentamos quase 24 horas por dia (aliás, descobrimos o que realmente significa 24 horas hehe). Nem dor nós sentimos, nos recuperamos de um procedimento cirúrgico ou parto normal em menos de uma semana, pois não temos tempo a perder.  O tempo passa a não existir e momentos sozinhas, mimos, cuidados estéticos são raros nos primeiros meses, nos tornamos somente mães, perdemos até o nome (vem com a mamãe, a mamãe vai fazer isso, a mamãe aquilo…), é como se perdêssemos o poder sobre o nosso próprio corpo.

Aquela mulher sensível que recebia toda atenção, carinho, cuidados se transforma em uma leoa, protetora de sua cria, puro instinto e amor, sem tempo para si, para nada. Aquela mulher que se admirava no espelho todos os dias acompanhando sua barriga crescer, agora aguarda ansiosamente a mesma voltar “ao normal”. Não nos reconhecemos mais, o corpo passa a ser um lugar desconhecido, os cabelos muitas vezes marcados (pois não podemos pintar por algum tempo) nos fazem evitar os temidos espelhos (e rabicós, elásticos, presilhas, “piranhas” passam a ser nossas aliadas), enfim, alguma coisa se perde e cá entre nós, são poucas as mulheres milagrosamente sortudas que voltam a ser exatamente como eram antes da gravidez em 1 mês, sem nenhuma estria ou marca qualquer, são incríveis exceções comparadas com a maioria (se esse é o seu caso se sinta o máximo).

O processo de reconhecimento e aceitação das novas formas aliado a toda essa loucura, correria, ao choque pós-parto, a privação de sono, a falta de atenção, a grande sensibilidade e hormônios loucos acabam com a nossa autoestima e precisamos aprender a nos amar novamente, precisamos nos conhecer e entender quem somos diante dessa nova mulher que nos tornamos.

Poucas vezes encontramos pessoas que nos perguntam como estamos nos sentindo em relação a tudo que está acontecendo (mas se o bebê dorme bem todo mundo pergunta, huhu) ou alguém (que não seja mãe) que nos compreenda, pois “Deus meee livreee” uma mãe reclamar, é um pecado terrível. Muitas pessoas não diferenciam a baixa autoestima da mulher e todo estranhamento que ela passa no pós-parto, do amor que ela sente pelo bebê, não entendem que ela não está reclamando do bebê e sim da forma que ela está se sentindo, aliás, mães também são seres humanos, podemos não parecer (risos), mas nós somos e também sentimos necessidades, desejos iguais aos das outras mulheres.

As frases: “Mas você é mãe não pode tal coisa” ou a pior de todas “Você que escolheu ser mãe, não reclama agora!” (nunca me falaram essa frase, mas eu já ouvi pessoas falando para amigas e isso é muito irritante), são as piores e mais ridículas coisas que uma pessoa pode falar pra uma mulher, pois às vezes só precisamos desabafar como aquela mulher que desabafa do marido e ninguém responde “ahh, mas foi você que escolheu casar”, pelo contrário, as mulheres acabam desabafando juntas, rindo do problema uma da outra por serem parecidos, sem desrespeito ou falta de sensibilidade.

Queremos falar como aquela mulher que reclama do cansaço no trabalho, mas adora trabalhar e não largaria aquela função, como aquela mulher que simplesmente diz que acordou de mau humor, triste ou está na tpm, mas ainda é muito feliz, apenas não está em um bom dia. Muitas vezes só precisamos falar e ser ouvidas, precisamos ser mulheres além de mães ou esposas, precisamos de fofocas bobas e vídeos ridículos, pois além de mãe, somos indivíduos.

Conforme o tempo passa e os nossos filhos começam a crescer (e a dormir hehe), começamos a nos perceber novamente, começamos a sentir falta, mas muita falta da mulher que éramos e passamos a adaptar as nossas vontades a nossa realidade (isso muitas vezes não é tão simples). Nesse processo todo, algumas amigas se afastam, nós nos afastamos, acabamos fazendo novas amizades com pessoas que nos compreendam, com novas mamães, com pessoas que também falem de filhos (mostrem 100 fotos deles comendo ou brincando e acham super divertido e não entediante), de filmes, de novas técnicas para preparar papinha para o filhão (a), de músicas, de roupas, mas também de cansaço hehe… E isso tudo é super natural.  Enfim, mudamos de mundo, mudamos de corpo, mudamos de vida, mas aonde ficamos?

Depois que nos tornamos mães é muito difícil voltar a ser quem éramos, aliás, jamais seremos a mesma pessoa, pois dentro de nós cria-se um ser totalmente maternal, onde tudo que vivemos, respiramos, sentimos, olhamos,  são nossos filhos. Nos sentimos e somos muito responsáveis pela vida deles, tão indefesos e cheios de necessidades que sobra pouco ou nenhum tempo para pensarmos em nossas vontades, para pensar no que queremos (e se fizemos isso nos enchemos de culpas, é como se fosse um crime).

A mulher dentro de nós fica totalmente sucumbida, totalmente escondida, não sabemos mais do que gostamos, quais são os nossos hobbies, quais as nossas músicas preferidas ou quais são as mais tocadas do momento (agora sobre o novo lançamento da galinha pintadinha já sabemos um mês antes hehe…), não sabemos mais qual o nosso estilo preferido, de roupa, calçados, nos perdemos em algum lugar. Quando saímos só conseguimos comprar coisas para os nossos filhos, aquele tênis lindo, aquela calça que ele(a) estava precisando, tudo para eles é mais interessante e mais bonito, parece que gastar com a gente é desnecessário, é como se tivéssemos deixando de dar algo a eles, sendo egoístas.

Nossos banhos duram 5 minutos, um pé dentro do chuveiro e o outro fora, lavar os cabelos se torna um evento com hora marcada e ficar relaxando na água quente somente coisa de final de semana (e olhaaa lááá). Vivemos enfrentando dilemas como: assistir um filme X dormir/descansar, comer X dormir/descansar, fazer algo para nós X dormir/descansar, parece que a única coisa que podemos fazer sem culpa no nosso tempo livre é dormir, pois nossos filhos dormem e acordam no mesmo horário, não importa se a gente ainda sente sono, se ainda estamos cansadas, com dor de garganta ou de cabeça. A nossa função é exatamente a mesma, não temos como “ligar para o chefe” e falar: hoje vou ficar em casa!

Então, acabamos esquecendo de nós mesmas e é muito difícil voltar a se cuidar, pensar em si,  é difícil aprender a lidar com as milhares de culpas que sentimos, é difícil parar e refletir sobre quem nós somos e quem queremos ser. Ter um filho é a missão mais sagrada de uma mulher, é a maior e mais incrível responsabilidade que recebemos, por isso cuidamos dos nossos filhos com todo o nosso ser, somos mães “dos pés, a cabeça”, mergulhamos nas necessidades dos nossos filhos e fizemos tudo isso com todo o amor que existe nesse mundo.

Porem, chega um momento na vida de uma mãe que ela precisa retomar o poder sobre a sua própria vida (principalmente depois que o bebê cresce um pouco), sobre o seu próprio corpo, sobre a sua autoestima, sobre ela mesma. É preciso olhar para o espelho e sentir orgulho da mulher guerreira que somos, das marcas que ficaram, de quem nos tornamos. Chega o dia em que toda mãe precisa simplesmente SER e não apenas EXISTIR.

Chegará o dia em que você aprenderá a trabalhar a sua culpa, chegará o dia que você precisará aprender que não será menos mãe se pensar um pouco em si mesma, não será menos mãe se comprar algo só para você, se voltar a tomar aquela taça de vinho que adorava, não será menos mãe se comprar livros que não são sobre maternidade e ouvir as musicas que tanto gosta, não será mesmos mãe se for vaidosa, se voltar a se cuidar, se preocupar com o seu corpo e suas novas formas, não será menos mãe se você se amar!

Pensando e vivendo a flor da pele tudo isso, resolvi que nesse dia da mulher, eu pensaria na mulher que eu sou e quero ser e resolvi fazer algo especial, algo que trouxesse um pouco do que eu perdi em todo esse caminho.

Com a ajuda e apoio do meu companheiro querido (e da nossa fada do lar), resolvi ter uma manhã apenas para mim. Fiz o que pude para me olhar no espelho e sentir que eu era aquela mulher e me identificar novamente com a minha imagem. Procurei por livros novos, músicas que me fizessem bem, sentei e apenas pensei nas coisas que eu gostava e queria fazer. Foi um dia para e sobre mim, um dia que irei repetir, um dia que descobri que preciso, mesmo que seja apenas uma vez por mês ou depois que o meu filho vai dormir, mas preciso desse tempo exclusivo para ser apenas mulher, cuidada e amada.

Aquela mulher que existia dentro de mim não existe mais, hoje, existe uma mulher guerreira, mais resistente, mais forte, mais amável, uma mulher que eu nem imaginava que existia. Uma mulher que consegue ser várias ao mesmo tempo e mesmo não fazendo tudo o que sente vontade, na hora que deseja, se sente a mulher mais realizada desse mundo, sente que conquistou tudo aquilo que queria, se sente completa, plena, como jamais havia se sentido.

Ser mãe é ser tudo, é ser criança, é ser cozinheira, é ser profissional, é ser amiga, é ser companheira, é ser guerreira, é ser linda, é ser carinhosa, é ser carente, é ser cansada, é ser “palhaça”, é ser estilista, é ser ouvinte, é ser descabelada, é ser arrumada, maquiada, é ser olheiras, é ser multitarefas, é ser filha, é ser esposa, é ser MULHER!

Então mulher, se olhe no espelho e sinta orgulho de quem você se tornou, se ame, se ache linda, se valorize, pois é você que sempre está disposta, que tem o melhor colinho do mundo, é você que sempre está pronta para ouvir, para amar, para viver por outra(s) pessoa(s), é você quem consegue fazer 100 coisas aos mesmo tempo, é você que corre o dia todo e ainda sorri no final do dia, é você que mesmo cansada é a melhor mãe do mundo, é você que transforma sua família e o seu lar em um lugar mais feliz, é você que move o mundo, é você que DA A VIDA! Se olhe no espelho e diga: Essa é a mulher que eu me tornei! Essa é a mulher que eu sou! E sinta muito, mas muito orgulho disso!

a mulher que eu me tornei

Essa é a mulher que eu vejo e quero ver no espelho, e você, o que está vendo? É o que quer ver?

Feliz dia das mulheres para todas nós!

Até mais!

11 comentários em “A mulher que eu me tornei!”

  1. Nossa! Se existe um texto mais perfeito pra definir o que somos eu não conheço! Me senti mais próxima, me identifiquei! Somos um pouco de tudo e precisamos nos valorizar. Parabéns. Muito bom, perfeito!

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  2. Excelente texto, Ana. Impossível não se identificar em cada linha do que você escreveu. Acredito que nao exista nada maior que transforme uma mulher que a chegada de um bebezinho. É uma constante transformação, hehe

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  3. Boa tarde! Tudo bem, Ana?
    Poxa, que delícia de texto! Fiquei muito emocionada!!!
    Sou mamãe do príncipe Eduardo de apenas 6 meses. Me identifiquei com cada linha que vc escreveu!
    Muito bom saber que não estamos só nessa aventura que é a maternidade.
    Obrigada por dividir conosco suas experiências.
    Bjssss

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  4. Obrigada, obrigada por ter escrito esse texto, estava agora em meu quarto deitada em minha cama chorando por amar tanto a minha filha e por está cansada e perdida, não é nada legal me olhar no espelho há 5 meses. Me sinto no momento feliz e frustrada, satisfeita e inquieta, sortuda e perdida.

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  5. Texto maravilhoso! Hoje após 5 meses de pós parto, tive um dia ruim, em relação à sociedade, xingamentos, e ofensas! quanto ao meu corpo, que me deixaram triste, com vontade de chorar, mas o seu texto me fez lembrar o porque deste corpo novo, desta mulher nova e diferente, ele trouxe ao mundo a minha obra prima!
    Meu filho amado.

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