Francisco é autista!

Olá pessoal!

 

Esse post com certeza foi e é o mais emocionante e especial que que já publiquei. O escrevi e publiquei no instagram (aqui) e na nossa página há alguns dias, mas acabei não publicando aqui. Refletindo sobre tudo que vivi e vivo com as redes sociais (apoio, conquistas, amigos, etc.), esse blog tão especial foi a origem de tudo. E muitas pessoas que não nos conhecem nas outras redes chegam nos conhecem aqui. Então, considero  importante registrar esse momento especial da nossa vida aqui também. Segue a publicação:

 

Há muito tempo venho pensando em como contar para vocês uma coisa muito importante. Algo que muitos já sabem, outros não imaginam, mas eu precisei de um tempo e muita segurança para poder falar sobre o assunto. Também, o tempo não colabora muito comigo, sentar e escrever tem sido difícil (devido ao trabalho e os meninos).

Minha vida de mãe nunca foi igual a das outras mães, não por eu ser diferente, melhor ou pior, mas eu sempre senti que era mais trabalhosa. Por muito tempo eu não entendia isso.
Desde que Francisco nasceu percebi que as coisas não seriam como eu havia imaginado (choque inicial de toda mãe com a perda da liberdade). Depois as coisas ficaram mais fáceis, porém, ainda diferentes. 

Até os 4 meses Francisco nunca havia dormido uma noite. Depois que o ensinei a dormir em 20 dias estava dormindo a noite toda. Tudo na vida do Francisco foi assim, muito adaptável, tudo funcionando muito bem. O ensinei desde que nasceu a ter rotina (isso é extremamente importante) e ele sempre foi (e é) uma criança muito calma. Desde pequeno o levávamos por todos os lugares, viajávamos para lugares distantes (12 horas em um carro), ele gostava de passear e viajar. Em qualquer lugar que fosse nós três era perfeito. Nunca estranhou as pessoas, era ótimo sair com ele.

Passou por todos os marcos de desenvolvimento motor no momento correto, rolou, sentou, engatinhou, caminhou, mas os marcos sociais não. Quando completou 16 meses falava papa e mama apenas, mas antes dessa idade diversos comportamentos nos chamavam atenção.

Francisco era muito querido, obedecia, fazia coisas difíceis com certos brinquedos, mas sentia dificuldade em coisas simples e básicas: não conseguia apontar com o dedo e demonstrar o que queria. Não respondia seu nome quando era chamado. Amava desenhos e a TV, nossa, se deixássemos passava o dia na frente. Tinha mais interesse pelos objetos do que pelas pessoas. 

Francisco, por outro lado, era (e é) extremante carinhoso, amado, gentil, um doce. Adorava contato físico com a gente (e ainda adora). Felicidade para ele era estar junto com a gente com a TV ligada. Ele amava brincar de se esconder, sorria, buscava atenção, mas seu brincar ainda era pobre e a vontade compartilhar pequena.

A frase que sempre o descreveu era: “como ele é calmo, como é querido e comportado”. E realmente, Francisco sempre foi o bebê dos sonhos. Imaginem, eu construí todo conteúdo do blog, gravei vídeos, cozinhava e fazia mil coisas sozinha com ele (não tinha ninguém para ajudar). 

Com o tempo, mesmo ele sendo maravilhoso, algumas coisas começaram a nos incomodar. Principalmente o papai do Francisco, muitas coisas o incomodavam, mais do que eu, pois mesmo Francisco não falando uma palavra eu sabia (e sei) tudo que ele precisava, era fácil para mim. 

Resolvemos levar Francisco com 17 meses em um especialista em desenvolvimento humano. Pedimos muitas referências até encontrarmos um bom pediatra nessa área, Dr. Ricardo Halpern (excelente médico).

Fomos ao médico e em nossa cabeça já tínhamos um um diagnóstico em questão. Sofremos muito tentando aceitar que nosso filho era diferente (o que é extremamente normal no início), mas o médico nos surpreendeu, ficou com dúvidas e decidiu avaliar esses atrasos no desenvolvimento inicialmente mudando apenas questões ambientais. Dessa forma, poderíamos perceber se Francisco mudaria ou manteria certos comportamentos.

Francisco vivia em um mundo “muito nosso”, pois ele não tinha tanto interesse em viver outro e a gente acabou se desinteressando também. Era tudo tão intenso, ele precisava tanto de mim… Muitas vezes eu não sabia aonde ele começava e eu terminava.

Nesse momento eu já estava grávida do Antônio e a gravidez tomou conta de grande parte da nossa vida. Decidimos socializar Francisco, colocamos ele na escola. Se adaptou fácil, mas ficou muito doente e resolvemos tirar. Adaptamos ele no quarto dele (dormia em nosso quarto, mas em uma cama separada), começamos a preparar a nossa vida para a chegada do irmão. Não seria fácil para ele dividir tudo que era seguro com mais alguém. Eu sentia muita dor no meu coração em imaginar a dor que Francisco sentiria ao perceber que seu mundo iria mudar.

Fomos vivendo e vivendo e vivendo… até que Antonio nasceu! Foi tão lindo, tão diferente, tão emocionante, nunca imaginei sentir tanta emoção. Antônio com uma hora de vida se comunicava mais com o olhar do que Francisco. E sabem de uma coisa, isso doía em mim. Ao mesmo tempo, tudo era mágico com Antônio, ver ele buscar o meu olhar para mamar me causava muita felicidade, era uma troca tão grande. Eram sentimentos tão ambíguos.

E conforme Antonio foi crescendo fomos vivendo experiências muito diferentes. Detalhes básicos para outros pais, para nós eram vivências incríveis. Antônio amava compartilhar tudo com a agente, tudo que fazia era observando se estávamos olhando. Sua coordenação motora fina era incrível, com 8 meses seus movimentos de pinça eram quase iguais aos do Francisco. E aliás, algo que nos incomodava era que Francisco caia muito. Quebrava os dentes, batia a cabeça, as pernas, a boca, tombos feios. Se desequilibrava com facilidade. Fomos juntando as peças, as desconfianças e já tínhamos certeza porque Francisco era diferente e tinha tantas dificuldades.

Depois que Antônio nasceu ficou mais claro ainda. Voltamos ao Dr. Ricardo preparados, sabíamos o que ele nos diria. Precisávamos apenas confirmar o diagnóstico para saber por onde começar. Francisco, nosso lindo Francisco, nosso príncipe querido que veio para quebrar padrões é autista!

Ou melhor, falando de forma correta, Francisco tem autismo (não é uma doença, é uma síndrome). Ele é diferente do “autista clássico”, (aquele que imaginamos quando não conhecemos de perto o espectro), pois não tem estereotipias, crises, violência, restrição alimentar, dificuldades para dormir, atraso intelectual, muitas coisas que a maioria dos autistas tem (e achamos que todos devem ter).

Francisco para quem conhece é um doce, é um príncipe, é nosso menino querido e nada, além, do amor ter triplicado mudou para nós.
No dia que descobri senti um alívio tão grande, pois eu sabia que as coisas se ajustariam e melhorariam, eu finalmente poderia ajudar meu filho da maneira correta. Não chorei, não neguei, aceitei, pois o meu período de negação e dor aconteceu com 17 meses, na primeira desconfiança. 

Hoje, nenhum segundo do meu dia eu me pergunto: “porquê eu?” Eu me sinto privilegiada (mesmo sendo difícil e trabalhoso) por ter uma criança tão especial me explicando todo dia a pureza e a beleza da vida! 

Escolhi essa foto, pois descreve exatamente nosso Francisco, a criança mais feliz desse mundo! 

 

Observação: Daqui para frente contarei detalhes das evoluções, de como Francisco está e falaremos muito sobre esse assunto. Eu sei que muitas mães precisam de apoio, e hoje, me sinto totalmente preparada parar falar sobre o assunto. Também, me sinto livre. Por muito tempo guardei tudo para mim (e foi necessário) e cada dia sentia que escondia algo sem motivos, o que me desmotivava muito. Agora, nova fase, novo momento! Bem vindo ainda mais ao nosso mundo!

 

Até mais!

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