TDAH em crianças: Será que seu filho tem?

 

Será que seu filho tem TDAH?

O TDAH ainda é considerado algo novo ou confuso para muitos pais e professores, por isso, o diagnóstico acaba se tornando difícil e ocorrendo tardiamente. Então, nesse post irei explicar um pouco sobre o que é o TDAH e como diagnosticá-lo.

A sigla TDAH significa Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. Porém, muitas pessoas não compreendem o que realmente é o TDAH e como ele afeta a vida de quem o possui. A imagem comum é de uma criança (malcriada) que corre e pula sem parar. Acredite, existem mais mitos do que verdades na cabeça das pessoas.

Vou começar essa explicação com uma frase do Dr. Russell Barkley (um dos maiores especialistas em TDAH do mundo), “O TDAH é um transtorno de motivação e não de atenção”. As pessoas pensam que a criança com TDAH tem dificuldade na escola, pois como dizem, “são menos inteligentes” ou apresentam problemas intelectuais. Também, são malcriadas, não se esforçam como os outros, ou ainda, que a culpa é dos pais que não dão limites.

Porém, o problema do TDAH não está relacionado a força de vontade, educação, limites, “falta de inteligência”, é um problema orgânico e congênito. Explicando de forma simples, o cérebro com TDAH apresenta alterações no funcionamento dos seus neurotransmissores, mais especificamente nas substâncias químicas, como a dopamina e a noradrenalina. Alterações significativas no córtex pré-frontal (região do cérebro próximo a nossa testa), que é uma das áreas responsáveis pelo armazenamos da memória, planejamento, controle dos impulsos (autocontrole), organização.

Alterações dopaminérgicas geram problemas na atenção, no humor, nos movimentos e na MOTIVAÇÃO. E a motivação não é simplesmente um comportamento que se adquire, a falta de motivação (orgânica) gera diversos prejuízos, como manter-se focado e atento a qualquer assunto, conversa, situação que não seja do seu real interesse.

Então, pessoas com TDAH têm organicamente dificuldade em ficar sentado assistindo uma aula de uma matéria que não as interessa. Agora, multiplique isso a uma criança (que já tem baixa maturidade e pouco controle dos impulsos). O resultado é dificuldade na aprendizagem, na socialização, no relacionamento com os pais, na autoestima, pois ela se sente “menos inteligente”, menos capaz, e claro, se sente diferente dos outros.

E existem três tipos de TDAH, o predominantemente desatento, o predominantemente hiperativo ou o tipo combinado (desatento e hiperativo ao mesmo tempo).

Ou seja, existe a criança calma que não fica pulando o tempo todo, fica aula toda sentada olhando para a/o professora/o, mas não consegue prestar atenção, é desatenta, não mantem o foco, perde e esquece os materiais, está sempre com o pensamento “viajando”, apresenta problemas na memória, entre outros prejuízos.

Existe, a criança que não para um segundo, não consegue sentar, sobe em todas as coisas, rói as unhas, morde as canetas, “destrói” os lápis, balança as pernas, come caminhando pela casa. E existe aquela que apresenta a hiperatividade física e mental e ainda desatenção.

A hiperatividade se torna evidente quando as crianças precisam ficar mais quitas ou em atividade com baixo nível de agitação. Porém, com atividades que exijam maior nível de atividade elas apresentam comportamentos “adequados” (e provavelmente se destacam).

Nos adultos a hiperatividade surge como desconfortos para permanecer sentado, assistindo aulas, palestras, filmes parados e sem perceber precisam mexer as mãos, pés, pernas, tocar em objetos, morder canetas, mexer nos cabelos, colocar as mãos nos bolsos.

O adulto tem consciência de que precisa ficar sentado aparentando prestar atenção, ele aprendeu ao longo dos anos o que não é socialmente aceitável. Porém, sua mente viaja por todos os locais possíveis, começa a lembrar das contas não pagas, das tarefas não realizadas, conversas antigas, pessoas que não respondeu, séries que quer ver, qualquer coisa menos a conversa, palestra ou aula “chata” que está “assistindo”.

A criança com TDAH irá crescer e o transtorno continuará com ela, apenas seu comportamento mudará, mas os prejuízos continuarão e aqui podemos descrever milhares (inclusive ansiedade e suas diversas apresentações). Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental. Então, jamais fale ou pense que quando a criança se torna adulta o TDAH desaparece, ele apenas apresenta outros sintomas.

Porém, não é qualquer dificuldade na aprendizagem, atrasos ou agitação que definirão o TDAH, tudo precisa ser fora do “comum para a idade”, precisa ser além e esses sintomas não estarem relacionados ao ambiente em que a criança vive.

Algumas crianças que vivem em ambientes desestruturados (brigas, rotinas confusas, pais instáveis), com sono prejudicado (não dormem as horas necessárias, dormem tarde e acordam cedo ou acordam muitas vezes na noite) apresentam sintomas parecidos com o TDAH. Por isso, precisamos avaliar muito bem a situação, lembrando que apenas um especialista na área (de preferência com experiência em TDAH) poderá realizar e firmar um diagnóstico.

O TDAH pode apresentar-se de formas diferentes em meninos, meninas, adolescentes e adultos. Porém, existem mais diagnósticos em meninos pelo comportamento, muitas vezes, ser mais aparente. Geralmente as meninas apresentam mais hiperatividade mental e desatenção.

Então, os professores olham para aquela menina e apenas acham que ela é distraída ou tem dificuldade na aprendizagem e ela cresce sentindo-se “burra”, incapaz, com a autoestima baixa e só recebe um diagnóstico adequado na vida adulta após crises de ansiedade e outras situações que a prejudica em todos os contextos sociais.

 

MITOS (nunca fale isso, pois é muito ignorante):

Existem muitos mitos sobre o TDAH e isso se torna um problema, pois muitas pessoas deixam de ajudar seus filhos e se ajudar por acreditar em inverdades. Porém, para realmente conseguirmos ajudar nossas crianças e os adultos precisamos eliminar do nosso pensamento e vocabulário esses mitos, os mais comum são:

  • Não é uma “doença” nova e invenção das empresas farmacêuticas para vender remédio (o primeiro relato médico sobre TDAH foi em 1798);
  • Não se torna TDAH na faculdade ou no trabalho ou para justificar preguiça (o TDAH obrigatoriamente precisa apresentar sinais antes dos 6 anos);
  • TDAH não é falta de curso motivacional, falta de fé, de Deus ou religião (não é uma questão de escolha, é um transtorno do Neurodesenvolvimento congênito e genético);
  • Não se adquire TDAH em vacinas (nem preciso comentar isso, certo?);
  • Definitivamente não é falta de cuidado dos pais, limites ou educação.

 

Sinais:

Lembrando que todos os sinais que irei apresentar devem ser classificados como “fora do aceitável, fora do que todo mundo também faz” e precisam de alguma forma causar prejuízos para a vida da pessoa:

  • Falta de foco, distração constante, dificuldade na atenção;
  • Esquecimento, alterações na memória;
  • Hiperatividade (mental ou física), em crianças isso pode apresentar-se em necessidade de se movimentar o tempo todo, correr, subir, falar sem parar, não conseguir ficar sentado, roer unhas, brincar com várias coisas ao mesmo tempo e pouco tempo em cada um, interromper adultos constantemente, falar alto. E em adultos, pernas, mãos constantemente em movimento, roer unhas, inquietação em esperar ou ficar parado, falar muito, interromper constantemente os outros, impaciência em histórias longas, necessidade de movimentar-se o tempo todo, sensação de que precisa constantemente estar fazendo algo, insônia, pensamento acelerado antes de dormir, entre outros;
  • Ansiedade, impaciência, irritabilidade;
  • Falta de organização, falta de planejamento;
  • Dificuldade em interpretar textos, cálculos ou em gravar o conteúdo na escola, faculdade. Precisam de mais tempo para compreender algumas tarefas;
  • Dificuldade para realizar um trabalho em sala de aula ou com pessoas perto;
  • Baixa noção do tempo (em muitas situações, inclusive por passar bastante tempo com seus diversos pensamentos);
  • Distração em tarefas simples, como as domésticas (exemplo: a criança vai até o quarto para pegar a roupa, vê um brinquedo começa a brincar e esquece o que foi fazer lá, já o adulto esquece a roupa na máquina, começa diversas tarefas e interrompe no meio, demora para lavar a louça e muitas vezes só consegue fazer se receber outro estímulo ao mesmo tempo, como assistir TV);
  • Hiperfoco no que gostam (podem ficar muitas horas sem perder o foco quando fazem algo que gostam, por exemplo: conseguem ficar 12 horas sentados jogando ou assistindo algo que gostam, mas é difícil, quase impossível ler 5 minutos seguidos e com foco um tema que não gere interesse);
  • Dificuldades em manter rotina;
  • Esquecem horários, compromissos, datas de pagamento;
  • Novos projetos constantemente (apresentam diversos interesses, mas nunca os mantém por muito tempo, exemplo: se apaixonam por pintura, compram todas as tintas, papéis, passam dias em um projeto, aprendem tudo sobre o tema e no mês seguinte perdem o interesse e nem olham mais para tudo aquilo);
  • Quando perdem o interesse em algo que gostam podem passar alguns dias entediados e desanimados (até encontrar outro interesse);
  • Dificuldade para falar coisas difíceis, evitam situações em vez de encará-las de frente;
  • Evitam criar e resolver conflitos (e muitas vezes acabam gerando situações piores por evitar explicações simples ou aceitam viver situações que não lhe agradam apenas para não causar conflitos e depois precisar lidar com a situação);
  • Pessoas vistas como desastradas ou com baixa noção de espaço;
  • Inconsistência (desistem de tudo ou quase tudo que começam, ótimos em criar projetos, mas não em executá-los);
  • Rendimento maior a noite, pois a falta de estímulo e barulhos facilita a concentração;
  • Ficam acordadas até tarde sem sono ou vontade dormir devido a agitação, consequentemente sentem indisposição e sono pela manhã;
  • Dificuldades em voltar para a rotina (demoram mais tempo do que outras pessoas para se organizar após uma viagem ou férias);
  • Evitam situações que exijam atenção ou esforço mental (sofrem para executar tarefas difíceis);
  • Deixam prazos, trabalhos e projetos para a última hora;
  • Entram em exaustão mental com mais facilidade, de forma mais intensa e constante que as demais pessoas.

 

E é importante destacar que a distração não é intencional e geralmente é confundida como falta de interesse ou atenção. Então, imagine como isso pode prejudicar os relacionamentos, sejam amorosos, de trabalho, com amigos. Imagine a situação: A pessoa com TDAH lembra de responder à mensagem que recebeu do amigo 1 mês depois, o que esse amigo irá pensar? Que a pessoa não gosta dele, não o valoriza, não dá a atenção necessária a amizade dele, afinal ela nunca lembra do aniversário, some e aparece do nada. Porém, ele ama o amigo, valoriza muito, mas simplesmente esquece de responder, simples, mas para as pessoas sem TDAH é difícil entender isso.

E além de prejudicar os relacionamentos, a falta de atenção/distração pode causar acidentes no trânsito, na cozinha ou em situações simples. Geralmente uma pessoa com TDAH vive com as pernas roxas de tanto bater, sem querer, em cantos, portas, gavetas, costuma quebrar objetos, esquecer comidas no forno e etc. Enfim, são situações simples e que parecem pequenas mas que apresentam prejuízos na vida do adulto, e claro, na criança.

Então, não importa a idade o diagnóstico e o tratamento são fundamentais, pois crianças com TDAH crescem geralmente com a autoestima baixa, se sentem diferentes dos mais, incompreendidas e essa criança se tornará um adulto com os mesmos sentimentos (porém mais intensos), e claro, diversos traumas.

 

Causas:

A genética é com certeza um dos maiores fatores no surgimento do TDAH. As pesquisas mais recentes apontam que o TDAH é um transtorno neurobiológico. Ou seja, o cérebro apresenta diferenças estruturais significativas, e assim, no seu funcionamento. Como já citei, especificamente no córtex pré-frontal, nos gânglios da base, cerebelo, corpo caloso e nas áreas do hemisfério direito.

Alguns estudos sugerem que as causas podem ser uma união de fatores (biológicos, ambientais, sociais e genéticos), como causas hereditárias, substâncias ingeridas na gravidez, exposição ao chumbo, sofrimento fetal, entre outros.

Lembrando que, familiares com TDAH têm grandes chances de terem filhos com TDAH e outros transtornos também.

 

Diagnóstico:

O diagnóstico é realizado de forma totalmente clínica, não existem exames de sangue ou imagem que possam detectar. E deve ser realizado por um profissional especializado (psiquiatra, neurologista), pois os sintomas do TDAH podem estar associados a outros transtornos também.

O médico irá analisar os sintomas atuais do paciente, seu histórico, no caso de adultos os sintomas precisam ter iniciado antes dos 6 anos. Irá avaliar a duração, a frequência, o quanto causa prejuízos na vida da pessoa.

O profissional pode solicitar testes psicológicos realizados por psicólogos habilitados, avaliações de desenvolvimento e avaliações escolares.  

 

Tratamento:

Após o diagnóstico, o tratamento dependerá de cada caso e nível. Algumas crianças e adultos precisarão de medicações específicas para o TDAH (Ritalina, Concerta, Ritalina LA, Venvanse, Juneve) ou para as comorbidades (como bipolaridade, ansiedade, TOC, entre outras), terapia e mudanças ambientais. Outras não precisarão de medicação, apenas de terapias e mudanças no dia a dia, como:

  • Terapia Cognitiva Comportamental (a mais indicada no tratamento do TDAH);
  • Mudanças na rotina (sono, horários) e no ambiente (baixo estímulo no local de trabalho, organização específica);
  • Técnicas específicas, como a “Pomodoro” para controle do tempo e atenção dividida.

 

Enfim, cada caso é diferente e precisa de um olhar especializado para definir qual será o melhor tratamento. Lembrando que apenas um médico (com conhecimento em TDAH) poderão receitar medicações.

OBS: Diferente do que muitas pessoas pensam, os medicamentos para TDAH não ajudam pessoas que não têm o transtorno a se concentrar e não melhoram o desempenho, pelo contrário apenas prejudicam e viciam.

 

Qualquer dúvida que você sentir escreva nos comentários,

Até mais.

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